A permanência de trabalhadores mais maduros no mercado de trabalho é um assunto que interessa de perto aos dirigentes e especialistas em fundos de pensão, que naturalmente buscam entender as suas causas. Esse interesse acaba sendo inevitalmente maior quando, conforme aconteceu na semana passada ao ser divulgada a taxa de desemprego em julho, percebe-se que pessoas com mais de 50 anos foram as maiores responsáveis pelo aumento da População Economicamente Ativa (PEA), conceito que abrange aqueles indivíduos ocupados e mesmo desocupados em busca de emprego.
O crescimento da faixa etária superior foi uma das surpresas da semana passada. A outra, naturalmente, foi a chegada do desemprego a 7,5% da PEA, conforme amplamente divulgado pela mídia.
Mais velhos vão à luta - “Pessoas mais velhas procurando emprego indicam algumas possibilidades”, diz Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV).
Esse apego dos mais maduros ao trabalho sequer é um movimento totalmente novo. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), o total de pessoas com mais de 50 anos empregadas vinha aumentando mais de 6% até o ano passado, até o mercado e a economia brasileira virarem.
Mais independentes e com a expectativa de vida maior do que há algumas décadas, profissionais mais maduros já vinham ganhando a atenção das empresas por representarem uma mão de obra mais qualificada e de um maior conhecimento técnico.
“A experiência com certeza é um grande diferencial, a maneira de enxergar os desafios transfere aos mais jovens segurança e maturidade a ponto de gerar equilíbrio nos times internos. Geralmente este tipo de profissional tem sua vida financeira equilibrada e, pela sua maturidade, dificilmente entrará em conflito”, afirma Julio Amorim, diretor-presidente do Great Group, empresa especializada em consultoria e gestão empresarial.
Um estudo realizado pela consultoria de recursos humanos Hay indicou a preferência de algumas companhias na contratação desse profissional. Ao todo, 20% das empresas têm optado por aposentados para ocupação de cargos segundo o estudo, que refletia a realidade do mercado antes da crise. Desse total, as funções mais procuradas eram de cargos técnicos (engenharia, finanças e comercial), de diretoria e para a gerência.
Nos tempos pré-crise, os profissionais mais maduros, dizem os especialistas, eram movidos em boa parte também pelo desejo de conservar um padrão de consumo mais elevado, dependente de uma renda que a aposentadoria sozinha não atende. Agora, com as dificuldades que emergiram nos últimos meses, o problema a vencer é compensar a perda de renda.
Possíveis razões - Na tentativa de buscar explicações para a maior presença dos maduros hoje no mercado de trabalho, Rodrigo de Moura, do IBRE-FGV, lista algumas possíveis razões. E uma delas, diz, é que pessoas mais velhas estão voltando à ativa na busca de compensar a perda de renda por parte dos integrantes mais jovens de suas famílias.
Outra possível explicação, segundo Moura, é que esses profissionais mais experientes, após perderem os seus empregos de salários medianos e altos nos últimos meses tentam agora se recolocar no mercado de trabalho.
No entender de Moura, uma dificuldade sentida por essa faixa de trabalhadores é que, por serem mais experientes e receberem em geral salários mais altos, dificilmente estão dispostos a aceitar as poucas ofertas que surgem num mercado de trabalho meio deprimido, quase sempre mais próximas do salário mínimo.